Assim dizia eufórico um personagem de um dos meus livros favoritos.
Quem sabe, ao certo, tudo que gostaríamos de encontrar fosse a toca do Coelho Branco...Pelo menos lá naquele país as ordens vêm da Rainha Vermelha apenas!
Comparações à parte, bem como inquietações literárias quanto à Rainha Branca e ao Rei da primeira, para quem é culto e conhece a história que de infantil pouco tem, sou forçada a afirmar que, neste país, existem poderes demais!
Das leis à execução, da farsa à correção e das decisões ou decretos a uma grande ilusão!
- Prenda-o! Preso estás tu! Não! Cumpra-se debaixo de vara! É uma ordem! Mas, ordem de quem? De uma Rainha? De um Presidente? Dos juízes? Dos Parlamentares? Oh! Por favor! Defina O R D E M! Agora!
Quando percebi, à mercê de despautérios sem medida, vi o Coelho Branco enlouquecido, pois há muito quis mudar-se de destino e aqui encontrou domicílio, o que muita paz lhe custou.
Já não tinha empatia. Logo constatou que neste país tupiniquim não poderia ater-se a mesuras que conhecia e praticava com eloquência invejável no mundo das maravilhas.
Ora, aqui não era mesmo maravilhoso.
Pobre Coelho! Aqui, não se tem o poder só em "Um", porquanto "Todos" os "ilustres" brasileiros resolveram tornar-se príncipes, reis e rainhas! Aliás, a democracia cá falada é algo estranho quanto ao seu funcionamento, constatou tardiamente o Coelho.
- Ainda que façam leis e outros o juridiquês, todos mandam e desmandam, conquanto nenhum a sua vez!
E, nesse talante, somente restou ao Coelho Branco ser sincero finalmente. Foi à Execução Federal entregar-se pelo vergonhoso crime de descumprir ordens reais, demonstrando o tépido animalzinho que não fora capaz de cumprir os mandos e desmandos que de todos os lados vinham.
Entre sins e nãos foi à forca! Pensou no Gato que ri e nos cachorros, que da bicharada, segundo o falar do Gato, são os únicos sãos [Como todos sabem, os cachorrinhos, ao contrário dos gatos e dos homens, rosnam quando bravos e balançam o rabo quando felizes].
Somos todos loucos! Incluiu-se então! Seu erro era ter achado que não era louco e precisava vir para este mundo de gente normal.
De normal nada achou. Somente os cães! Lá e aqui eles são mesmo de fantástica sobriedade.
Quiseram dar-lhe um presentinho...O Coelho recusou-se a aceitar, pois as doações eram onerosas, sem honradez até mesmo para um Coelho acostumado com mesuras e rígidos horários reais.
Não se pode confiar em suas palavras! O Coelho percebeu que, neste país, eles pintam as leis brancas de vermelho!
Preocupados com o amigo, o Chapeleiro Louco e o Gato saíram pela toca e, da Inglaterra, chegaram ao Brasil entristecidos e preocupados com o fim do pobre Coelho Branco. Este, feliz em reencontrar os amigos, disse-lhes:
- Ouçam! Ouçam! De nada valem minhas mesuras e fina educação nesta terra de democracia às avessas! Eles são todos príncipes e não têm vontade de Constituição! São vaidosos e suas crianças provavelmente de nada valerão! Saudade do porquinho-bebê da Duquesa...Aquilo sim era infante de notória educação!
- Acertada e inteligente era Alice! Nosso mundo é mesmo o país das maravilhas! Isso aqui é alvoroço! É medo o tempo todo e tarde para se mudar! Nunca, mas nunca mesmo, se chega à hora do chá!
- Mary Ann! Mary Ann!
O Coelho enlouqueceu de vez...
Na companhia e nos aplausos de seus amigos, o Coelho Branco foi para sua toca, mas antes de descer ao seu mundo, olhou para trás e disse em alto e bom tom:
- Sem Mary Ann não há conserto. O jeito é acreditar que o poder não pode ser medido com mesuras. Aqui, no alto, somos todos vassalos e senhores em tempo exíguo para se mudar. Rodamos em História. Estamos sempre a repeti-la e de nada adianta...ou atrasa mais ainda...adianta...atrasa...adianta...atrasa...
- É tarde!
- Para o chá? [Perguntou o Chapeleiro Louco]
- Não seu imbecil! Para esse tal de Brasil encontrar seu caminho...Tu não sabes que é preciso saber para aonde se deseja ir? [Acrescentou o Gato, que, no final, era apenas um irônico sorriso...]
Karoline Brasil
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